Quando cheguei, no início, marcava objectivos diários. Havia que conhecer Macau à velocidade da curiosidade e das surpresas. Sempre de máquina na mão. Aliás, se não levasse máquina, não ia visitar os sítios, mesmo que passasse perto, porque queria registá-los. O mapa acompanhava-me nestes passeios, mas foi ficando cada vez mais dentro da mochila. Muitas ruas palmilhadas, desorientação e deixar-me perder. Tinha todo o tempo do mundo, não havia que preocupar-me. Depois esta velocidade foi diminuindo à medida que fui conhecendo melhor a cidade. Uma cidade que pensei que fosse maior e mais complicada, mais veloz…mais urbana.
Um dos impactos que tive, inicialmente, foi o facto de haver muitos e muitos prédios, com grades e grades, sem espaço para respirar, quase sem jardins, poluição, muitas motas.
Estava frio e só trazia roupa de verão. Sonhava com a roupa quente que tinha deixado em Portugal. O Rog estava sempre a trabalhar e progressivamente fui-me sentindo sozinha. Estava a viver uma vida que não tinha nada a ver com a vida que levava, sempre em contacto com as pessoas, com as rotinas demarcadas e que fazem tão bem, como ir tomar um café, ou vasculhar as promoções da Zara.
Não é propriamente uma cidade fácil para o entrosamento com as pessoas naturais de cá, até porque tanto a língua como os costumes são diferentes. E, no seio da comunidade portuguesa, cada qual tem o seu trabalho, o seu stress, a sua vida. Os espaços afectivos estão delimitados.
O primeiro mês foi para me ambientar, o segundo para me encaixar na rotina, o terceiro para preparar o regresso, psicologicamente, acima de tudo.
Não deixo para trás nada de útil que tenha feito…mas deixo alguma melancolia e, talvez, alguma saudade deste dia-a-dia com o qual já estava acostumada, e ao qual me tinha adaptado, mesmo não entendendo a língua, mesmo levando os dias em pura rotina.
Fiquei também mais sábia porque percebi que é possível fazer algumas coisas quando pouco se tem. È possível fazer um bolo de iogurte (não tendo balança as medidas do iogurte dão jeito), batido com varinha mágica e feito num fornito minúsculo, numa forma de alumínio. Também as panquecas ficam muito bem.
O que fica:Rog e uma vida partilhada a dois
Frutas exóticas como mangostão ou lichia, que em Portugal só existirá em lata.
Ananás a 5 patacas (50cênt)
Segurança (nas ruas de dia ou de noite)
Árvore das Patacas (não consegui encontrá-la, não sei onde há)
O que levo:Uma outra cultura no meu cardápio
Desmistificar de alguns preconceitos
Desejo de voltar e conhecer mais a China
Vontade de praticar tai-chi
Apetite para restaurantes chineses em Portugal (independentemente da segurança e higiene alimentar!!)
O que me espera:Os meus pais
Os meus amigos
A minha sissi (que já nem me deve reconhecer)
e...um Portugal completamente de rastos e desmotivante, que muitas vezes me entristece!