Welcome to Cochinchina


Pensava eu que ao dizer algo como “ só se for na Cochinchina”, querendo dizer que seria algo longe ou impossível, seria uma expressão apenas. Não sabia que algum dia eu iria à Cochinchina. Esta era uma região sul do Vietname, onde se situa a cidade de Ho Chi Min, antiga Saigão. O Vietname sempre me fascinou, talvez pelos filmes sobre a Guerra com os americanos. Viemos de autocarro Siem Rieap, no Cambodja, passámos por Phenom Penh e seguimos para a fronteira com o Vietname. Passámos um dia inteiro em viagem. Há uma zona, que não sei se é terra de ninguém, perto da fronteira com o Vietname onde se vêem casinos, o que achei bastante estranho, pois é preciso haver licenças especiais para operar e coisa e tal. E o que tinha de engraçado eram os nomes “Las Vegas Sun”, “Le Macau” e umas outras quantas imitações.
Já em Ho Chi min, uma cidade agitada, com 9 milhões de pessoas e 5 milhões de motas, eu decidi entrar com o pé direito…perdão…com o corpo todo. Passo a explicar: com mochila às costas, mochila à frente, claro que só poderia mesmo era tropeçar e cair…espalhei-me toda!!! Fiquei com os joelhos esfolados, que nem os putos. E ainda hoje cá está a mazela para comprovar. Adiante. Não tínhamos hotel marcado, como é normal, e andámos à procura. Na rua onde estávamos há cerca de 100 hotéis (quer dizer pensões, guesthouses, hostel). O difícil era encontrar algo decente e com preços decentes.
Depois de uma noite bem dormida, havia que rentabilizar o tempo e rumámos pela manhã para dar uma volta (tour) pelo rio Mekong, cor de terra, que já fez um longe percurso desde o Tibete, passando pelo Laos e Camboja. Primeiro fizemos uma paragem numa fábrica de artesanato, onde trabalham bastantes pessoas com deficiência, consequência da guerra. Muitas desta oficinas são geridas pelo governo, para dar emprego às vítimas, por exemplo, do gás laranja, mas não é o suficiente para empregar os cerca de 5 milhões que há no país.
Depois de uma Floresta Flutuante no Camboja, a volta pelo Mekong não foi assim tão interessante, até porque estávamos sempre a parar para ver mais um tipo de artesanato e, claro, onde nos incitavam a comprar…Nesta zona, o Mekong tem três grandes ilhas e as pessoas vivem da exploração do coco (vinho, rebuçados, etc, etc) e da pesca do peixe elefante.
No dia seguinte, fomos ver os túneis que os Vietcong escavaram para se defenderem durante a Guerra. No total existem 200Km de túneis. O bulício da cidade é uma constante desde muito cedo, é um ruído muito característico da cidade. Segundo o nosso guia, todos os anos há cerca de 150 a 200 mil mortos e feridos devido a acidentes de viação, muito por causa da fraca protecção, por exemplo em termos de capacetes.
Ora, já nos túneis de Cu Chi percebemos que eles faziam toda a sua vida debaixo da terra e tudo estava pensado ao pormenor. Por exemplo, o fumo da cozinha era encaminhado para vários metros de distância da própria cozinha, para despistar o inimigo. Andámos dentro de um túnel, mas eu só andei uns metros e saí logo…senti-me claustrofóbica.
Véspera de natal. Tínhamos que apanhar o avião até Danang no centro do Vietname. Não tínhamos hotel marcado. O voo estava atrasado duas horas e não havia telefones públicos no aeroporto. Queríamos tentar reservar um quarto uma vez que íamos chegar muito tarde. O jantar de natal foi uma lasagna vegetariana, Club sandwich e coca-cola. Mas é engraçado ver as decorações de natal em todo o lado. O natal sente-se ao rubro, mas penso que seja apenas o natal comercial. Chegámos a Danang às 2h da manhã e o primeiro hotel não quis abrir a porta…seguimos para outro e lá nos abriram a porta. O hotel era muito mau, arranhavam a muito custo umas palavritas de inglês…mas queríamos era um tecto e no dia seguinte íamos embora. Azar…porque às 5h da manhã o Rog tremia de febre. Saquei do guia do Lonely Planet para ver qual o hospital que havia e se inspirava confiança. Lá fui com ele de táxi, meia de pijama, meia vestida. Não havia triagem, entrava-se directamente para a sala de tratamento das urgências, onde estavam 6 camas alinhadas. O pessoal médico foi fantástico, falavam bem inglês, fizeram análises, explicaram tudo. Deram-lhe uma injecção para baixar a febre. Ainda bem pois mesmo que quisesse comprar medicamentos, aqui não há nenhuma farmácia de serviço à noite. Paguei 10 US dólares pela consulta. Um pormenor engraçado foi a chegada de um médico ou enfermeiro, sei lá, com escova dos dentes na mão e toca a lavar os dentes na pia onde os médicos lavam as mãos…liiindo! O regresso para o hotel foi um bocadinho stressante…para já os táxis andam a 5km/h para fazer render o taxímetro, e o taxímetro parece que anda mais rápido…Esqueci-me do nome do hotel!!! Pois é, como chegámos de noite, já tarde, a um hotel qualquer, não fixei o nome. Só sabia que ficava na mesma rua onde estava o outro recomendado pelo Lonely Planet e que se recusou a abrir-nos a porta. Então pedi ao taxista para ir para essa rua. Mas a rua parecia ser maior, não sei…estava a ficar ligeiramente em pânico pois não estava a ver o hotel em lado algum e o rog estava encostado a mim, sem forças, atordoado com a febre. Bem quando chegámos ao hotel o taxista cobrou-nos o triplo do que devia!!! Com o rog como estava nem tempo tive de “dar umas estaladas” ao taxista pela roubalheira!
O dia de natal foi passado no hotel/espelunca que nem restaurante/café tinha. O Rog não podia sair para lado nenhum. Comecei a fazer daquele bairro, o meu . Em frente tinha o banco onde podia trocar dinheiro, ao lado uma farmácia (hum que conveniente), todos dias à mesma hora, à entrada estava um café ambulante, com um café vietnamita maravilhoso, com leite condensado, depois chegava a sra. das baguetes e da carne fresca. No segundo dia descobri um supermercado fantástico. Só não consegui acertar com os correios. No dia seguinte, veio um médico ao hotel (não sei como descobriram onde era), para ver se o Rog estava bem, e até trazia um ramo de rosas…(como ninguém dá nada a ninguém, ainda perguntei quanto era ehhehe). Fiquei deveras impressionada.
Com este contratempo, tivemos de reajustar as nossas férias. Estava previsto ir a Hanói, Halong Bay e regressar de avião para Ho Chi Min. Eu já estava a pensar que dali teria de ir directamente para Ho Chi Min e que as minhas férias tinham terminado. Mas, eis que o Rog recupera da sua febre Dengue e ao terceiro dia reiniciámos as férias. Tivemos que ir alterar os voos que tínhamos, pedir reembolso, blá blá bla. Ainda conseguimos ir ver a pequena vila de Hoi Na, património da humanidade, onde andámos a maior parte do tempo de bicicleta, que eu adorei, porque adoro andar de bicicleta. Fomos ver os campos de arroz, que nesta altura estavam castanhos de lama e não verdes.
Depois fomos a Hue de autocarro, demorando 4 horas de viagem, e passei pelo túnel mais comprido em que já passei até hoje, 16km, parecia que nunca mais acabava. Bem, aqui o nosso hotel era demais. Era numa rua estreita que ninguém dava com aquilo. Éramos os únicos clientes. Os trabalhadores eram dois irmãos, muito simpáticos, mas que de inglês pouco ou nada percebiam. De vez em quando falhava a luz e tinha que se esperar que voltasse, pois não havia gerador, nem nada. Ainda bem que não falhou comigo dentro do elevador! Na última noite fomos convidados para jantar com a família (os pais estavam ausentes). Gostei muito de visitar o túmulo do último imperador, que era uma zona onde ele ia passar férias, com jardins, rio e lago…senti-me ser transportada verdadeiramente para outro tempo.
Regressámos a Ho Chi Min de avião, pernoitámos, e de manhã rumámos a Macau. Parece que tudo passou demasiado a correr, mas foi uma viagem cheia de aventura, como sempre. A próxima: Laos, para encerrar o triângulo dourado do Mekong, depois da visita ao Camboja e Vietname.

O início do triangulo dourado em torno do Mekong: Camboja



Camboja ou cam pu chia
Quatro dias num dos países mais pobres da Ásia, povoado de gente humilde. Um povo que ainda está a recuperar de um dos regimes mais sanguinários de todos os tempos, khmer vermelhos. Na capital do país, Phnom Penh, com apenas uma das estradas principais em alcatrão e as restantes em terra batida. Uma capital que não parecia uma capital. Pouco havia para ver nesta cidade a não ser a prisão Tuol Sleng, ou S21, onde foram encarceradas e torturadas milhares de pessoas, e os chamados Killing Fields, campos de morte para onde eram levadas as pessoas que depois eram mortas e enterradas em valas comuns. Em três anos, foram mortas mais de 1 milhão de pessoas (cerce de 15% da população), numa operação a que Pol Pot, o líder do regime, considerava o ano zero do Camboja. Apesar de esta ter sido mais uma viagem de lazer, para conhecer mais uma cultura, é importante ficar também a conhecer esta dura realidade que faz parte da história do país. Além disso, foi uma viagem bastante interessante. Um dia em Phnom Penh e no dia seguinte partimos para Siem Reap. Claro que com a troca de fuso horário em apenas uma hora, levantámo-nos às 5h30 a pensar que eram 6h30 e lá tivemos de esperar uma hora até que o resto do grupo se levantasse. O quotidiano é tão ‘deixa andar’ que duas amigas que estavam connosco pediram, cada uma, um expresso e o que veio foi apenas um expresso que o empregado pediu para partilharem, pois já não havia mais. À tarde, seguimos de autocarro numa viagem que durou 6 horas até Siem Reap, sempre com o autocarro a apitar de segundo a segundo, mas alguém conseguiu dormir toda a viagem. A paisagem era rural e a televisão do autocarro transmitia karaoke cambojano que, de tanto ouvir, quase conseguia trautear. Devido ao facto de ser bastante turístico, Siem Reap tem mais aspecto de capital do que Phnom Penh. Aqui conhecemos uma guesthouse chamada Babel, gerida por um espanhol e um italiano. Muito simpáticos e com um ambiente muito cool. O que nos trouxe até aqui foi o conjunto de templos, património da Unesco, denominado Angkor Wat, que é simplesmente magnífico. Alugamos uns tuktuk, conduzidos por uns jovens simpáticos e lá fomos. É como sermos transportados para outro tempo, apesar das nossas máquinas do tempo, os tuktuk, não serem lá muito avançados tecnologicamente… heheheh! A arquitectura de cada tempo revelava uma magnificência esplêndida, no entanto bastante destruídos pelo passar do tempo. O tour terminou no alto de um templo para onde quase toda a gente se dirigia para assistir a um maravilhoso pôr-do-sol, como referenciava o guia do Lonely Planet. No último dia, não sabíamos o que fazer, no entanto sabíamos que havia algures uma aldeia flutuante. Ora vamos até lá! Surpreendeu-me deveras. Talvez por não saber o que ia encontrar, não tinha grandes expectativas. Fomos de tuktuk até uma zona bastante rural, depois tivemos de ir de mota até uma zona onde poderíamos apanhar um barco, uma vez que estávamos na época seca e o caudal de um dos rios estava bastante recuado. Ainda ‘caí’ da mota duas vezes, mas sem estragos, porque o caminho era de areia. Seguimos de barco até ao Tonle Sap, um lago enorme, (época seca 2 600 km2, época das chuvas 24 600 km2) e pelo caminho visitamos uma aldeia flutuante, onde até os currais dos porcos estava em cima da água a flutuar e onde toda a vida quotidiana se fazia, em cima da água. O dono de uma das casas arranhava francês. As casas encontravam-se a seis metros acima do nível da água, mas na época das chuvas a água subia cerca de 4 metros. As imagens falarão por si. A viagem relaxante pelo silêncio e mística da floresta flutuante valeu por mil spas. Simplesmente lindo! A viagem também passou no centro do lago, com alguns aventureiros a lançarem-se à água para um mergulho. Esta aventura terminou numa escola local, com a distribuição de cadernos e lápis aos alunos, todos eles carenciados. Terminou assim a curta visita a um país que fica na memória.
A viagem continua no dia seguinte (22 de Dezembro), de autocarro novamente, até Ho Chi Minh (antiga Saigão), que demorou 12 horas. A viagem pelo Vietname em breve...