Desde pequenos que nos vamos agarrando, sentimentalmente, às coisas. O carrinho que recebemos com comando à distância, e que adoramos e nos faz muito felizes; as panelinhas para imitar a mãe a fazer comida, mas desta vez com comida a fingir. Terra e ervas, talvez. Muitas coisas materiais que nos ligam à vida e que nos fazem trilhar um caminho, que nos fazem ser quem somos, que nos dão a estabilidade necessária para avançar. Uma casa, um lugar, os amigos de infância e da escola.
Algumas coisas vamos esquecendo. Já não nos lembramos dos brinquedos, ou não lhes damos o valor que dávamos. Vamos adquirindo outras materialidades. Ora um souvenir que uma amiga nos trouxe de Cuba ou de Palma de Maillorca. Aquele top que comprámos no verão passado e que adoramos (mas não faz mais sentido voltar a usar). Pedaços de nós, das nossas vivências, de quem gostamos, que vamos guardando, guardando...guardando...
Mas chega um dia em que tudo isto deixa de fazer sentido. Empacotamos tudo, como se empacotássemos a própria vida. Custa abandonar um objecto, simplesmente porque tem uma história. Ou porque essa história é dolorosa, ou talvez nos tenha feito rir.
Forçamo-nos a esquecer os momentos dos quais fizemos parte ou aqueles que os outros partilharam connosco, e que esses objectos nos ajudam a recordar. A comodidade e o conforto que tanto queríamos deixa de ter significado. E até as plantas que tanto acarinhávamos vamos deixar de ver crescer…ou o animal de estimação vai ficar à sua sorte.
Largamos tudo. Tanto podemos estar aqui, como ali. Os amigos estão sempre presentes, umas vezes mais, outras menos. Alguns seguem vidas diferentes e distanciam-se, outros novos surgem e ficam. Enfim, o ritmo normal da vida como as marés. Enfim, a busca e vivência da felicidade.
Até a força, a auto-estima, a independência, os princípios, as crenças são empacotados e bem selados…ou desaparecem como um cubo de gelo dentro do chá.
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