Recordar é também viajar :)

Onde me encontro vejos algumas vezes a RTInternacional. Contém programacao própria, apresentando apenas alguns programas dos canais 1 e 2 da RTP e também RTPN, como noticiários, Praca da Alegria (gravado), Portugal no Coracao (directo), Sociedade Civil, Biosfera, etc. Existem programas sobre as comunidades espalhadas pelo mundo, como é o caso do Contacto (Macau Contacto, Europa Contacto, França Contacto, Timor Leste Contacto, entre outros). Ao contrário do que se poderia imaginar, não venho falar do Macau Contacto, mas sim de Timor Leste Contacto, apresentado por Fernando Sávio. O último programa chamou-me a atenção porque mostrou lugares por onde passei, como um resort em particular onde estive: Resort de Com.
Timor é uma jovem nação (desde 2002) e é bastante pobre: as criancas andam sujas e rotas pelas ruas, alguns vendedores ganham a vida a vender coco, ou melhor, água de coco, crianças lavam os carros com água suja que vão buscar aos riachos ou poças de água.
É o país com a taxa de natalidade mais elevada, com uma média de 10 ou mais filhos por casal.
Voltando ao resort e a propósito de país pobre.
Na altura que estive lá (2006), os tostões estavam contados e escolhia-se o alojamento mais barato. Este resort de Com não fugiu à regra. Tinha diversos “quartos” espalhados por uma área cuidada com jardins. Atravessando a estrada, estávamos na praia. Os quartos eram contentores semelhantes àqueles usados nas obras de construção civil, mas com umas pedras pequenas “coladas” na parte exterior, parecendo agradáveis casinhas tradicionais. Uma vez lá dentro, só era possível permanecer com o ar condicionado ligado. Emitia um barulho terrível. A casa de banho deste género de quartos baratos é colectiva, no exterior, num outro contentor. Aqui os lavatórios eram de aco inox, como alguns lava-loiças em Portugal, com resíduos de calcário, portanto nada brilhantes, nem a cheirar a limpo. O resto da casa-de-banho também era complicado de usar.
Havia quartos melhores, mais caros, e com casa-de-banho incluída. Mas era irrelevante para nós. Afinal estávamos em lua-de-mel. 
No restaurante, implantado na areia da praia comemos à noite um peixe fantástico, como nunca tinha comido, nem voltei a comer. Fomos “assaltados” por crianças que vendiam artesanato e se desmanchavam em sorrisos ou gargalhadas por serem o alvo da máquina fotográfica.
O resort serviu apenas para passar uma noite, já que não havia mais nada nas redondezas.
O objectivo final era chegar a Tutuala, uma fantástica e virgem praia de areia branca e águas muito límpidas. Em frente, avistava-se a ilha de Jaco. Verdadeiros paraísos que nem nos postais constam.
A estrada que conduz até lá é que é um verdadeiro tormento. Só pode fazer-se de jipe (pelo menos há um ano e meio era assim), numa estrada aberta pelos portugueses, antes de 1974. Agora é pedra sobre pedra, sempre a descer ou a subir, no caso do regresso. Os pescadores faziam este percurso a pé e demoravam cerca de duas horas. Na viagem de regresso, o jipe veio mais pesado (mas pouco), porque os pescadores aproveitaram a boleia. Quando questionados sobre a alimentacao, respondiam “comemos arroz”. Sim a resposta foi dada em português, e com orgulho. Então, mas não comem o peixe que pescam?, retorqui. “É raro. Não temos barcos suficientes. Então, umas vezes vai um, no dia seguinte vai outro, até dar a vez a todos. E hoje não era o meu dia.”
Ganham também dinheiro a transportar estrangeiros para a ilha de Jaco, uma viagem que não arrisquei a fazer naquelas barcaças.
Na altura, alguns estrangeiros levavam a tenda e pernoitavam lá, mas já ouvi dizer que agora tem um pequeno resort ou algo do género na ilha deserta.
Foi neste mar, neste local, que há uns anos o R. quase se afogava, valendo-lhe uns amigos brasileiros com quem foi, que, por acaso, eram salva-vidas.
Estas recordacoes vêm à tona depois de ver um programa Timor Leste Contacto. Momento em que também percebi que cada vez que visito algum lugar ou país sinto-me sempre insatisfeita. Aconteceu-me ao visitar a terceira cidade da China, Xi’an. Magnífica, com tradição milenar; com jóias preciosas como são os soldados terracota. Mas quem já passou por Timor Leste, ainda que durante15 dias, tudo o resto parecem apenas lugares.

Nota: Visitei Timor Leste em Abril de 2006, numa altura difícil do país, entre tantas outras, mesmo no meio de uma crise militar e política que deixou a capital, Dili, e o norte de Timor em estado de alerta e tensão. Por este motivo, a visita ao país foi contida, com pena minha.


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