Camilo Pessanha entre Portugal e Macau

Viveu grande parte da sua vida em Macau, onde acabou por falecer, em 1826. A última morada está a dois passos de minha casa, no cemitério S. Miguel.

Falo de Camilo Pessanha, poeta do simbolismo português.

Integrou-se bem na cultura do oriente, comprou arte chinesa, verteu poesia chinesa para a língua portuguesa, viveu com uma concubina local de quem teve um filho.
Foi professor no Liceu de Macau, advogado e jurista.
Mas era considerado por muitos dos colonialistas da altura como um ser estranho, andrajoso, que descurava o trabalho. Tinha um vício - mas muitos na altura também tinham, que era fumar ópio. A saúde era precária o que o levou por duas vezes a Portugal para apanhar melhores ares.
A única obra que permaneceu foi Clepsidra, apesar de ter criado muitas poesias que acabaram por morrer com ele.

Eis um poema que escreveu em Macau:
Vida
Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das liliáceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liliáceas!

Calquem. Recalquem, não o afogam.
Deixem. Não calquem. Que tudo invadam.
Não as extinguem. Porque as degradam?
Para que as calcam? Não as afogam.

Olhem o fogo que anda na serra.
É a queimada... Que lumaréu!
Podem calcá-lo, deitar-lhe terra,
Que não apagam o lumaréu.

Deixem! Não calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta além.
- E se arde tudo? - Isso que tem?
Deitam-lhe fogo, é para arder...

Macau, Julho 1896

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