No tecto do mundo! TIBETE

Olhar para os rostos escuros, queimados pelo sol do campo e da montanha, ou rostos de faces rosadas, pintadas pelo frio, traz um sentimento de familiaridade. Não sei porquê. Em Lhasa (Tibete), ainda se vêem pessoas autênticas, peregrinos que ostentam com orgulho as suas tradições, nos casacos que vestem, na maneira como prendem o cabelo, ou na forma como transportam as crianças. Em torno dos templos, do Potala, ou do centro histórico, os peregrinos caminham no sentido do ponteiro dos relógios sempre a rezar, enquanto giram os mantras na roda da oração que transportam na mão. Outros passam dias a orar, repetindo um ritual, no mínimo 100 vezes por dia, sempre no mesmo local: de pé elevam as mãos juntas ao céu, depois deitam-se numa almofada comprida, de barriga para baixo, e escorregam com as mãos desde a zona do tronco até à cabeça. Repetem e repetem. Para além dos objectivos espirituais, é, sem dúvida, um óptimo exercício físico.
O sentimento de familiaridade talvez tenha a ver com as minhas origens, em que o frio, o nariz gelado, as montanhas com neve eram uma constante durante os anos da minha adolescência. Mas este sentimento também está relacionado com algum dejá vu… estes homens de longos casacos e chapéus de cabedal faziam lembrar peruanos, andinos, não sei... Mas foi num café, estilo Starbucks, gerido por um fotógrafo americano que se apaixonou pelo Tibete que fiquei a saber um pouco mais. Diz-se que os índios americanos Navajos poderão descender de tibetanos que migraram para o norte da América através do estreito de Behring. E, na verdade, parecem-se muito com esse povo!
Todos sabem que o Tibete está envolto em acontecimentos menos felizes. E disso resultaram consequências graves que ditarão o futuro do Tibete, da sua cultura e do povo tibetano. Grupos de militares chineses patrulham as ruas diariamente, no terraço dos edifícios homens e câmaras garantem que nenhum movimento seja feito sem que seja vigiado. Nos mosteiros, monjas e monges tibetanos são cada vez menos devido ao limite imposto pelo governo central. Um novo e enorme bairro chinês cresce a bom ritmo. Nas ruas não se fala apenas tibetano, mas também mandarim. O Potala é cada vez mais um local pleno de história e nada mais. Defendo o Tibete e a cultura tibetana a património da humanidade! Os povos nómadas serão aqueles que vão manter a cultura intacta. Até quando? Não se sabe.
O primeiro impacto ao chegar é a falta de ar, o cansaço constante, as tonturas e o frio. Ainda no avião, avistavam-se as montanhas… cheias de neve. Uma imagem lindíssima! Também a turbulência foi elevada. Experienciei a turbulência mais preocupante que tive até hoje. O avião inclinou cerca de 45 graus em dois segundos… Ufa! Depois continuava a dançar que nem uma bailarina. No aeroporto, que fica a uma hora da cidade de Lhasa, somos recebidos com um katak (lenço branco que para além de dar as boas-vindas é também oferecido aos budas nos templos).
A cidade de Lhasa, situada a 3700m, é muito sossegada. Os cerca de 200 mil habitantes acordam entre as 8h e as 10h e recolhem a casa às 10h30. Entende-se porquê. Está muito frio na rua, pois a amplitude térmica é elevada (entre 14 graus e 2 graus) e as condições de aquecimento nas casas são praticamente inexistentes. Aqui usa-se máscara, não por causa da poluição, como noutras cidades chinesas, mas para proteger do frio. O povo é simpático e fala umas palavras de inglês, o suficiente para as trocas comerciais. Alo (hello), luki luki (look) e I lovi you são algumas das expressões usadas para chamar a atenção. A única palavra por mim usada em tibetano para estabelecer alguma comunicação era tashi delek (Olá). Uma zona pantanosa na envolvente da cidade é bastante importante para garantir os 60% de oxigénio existente. Abundam patos bravos.
De visita pelas zonas rurais, encontrávamos bastantes fitas com mantras nas cores do Tibete – azul, verde, amarelo, vermelho, branco – colocadas em pontes, porque ao estar próximo da água pedem ou agradecem o bom tempo, ou em montes, comunicando com os espíritos da saúde e da sorte. O incenso queima-se em todo o lado, assim como se usa o excremento de iaque (semelhante ao búfalo) como material combustível depois de seco. Também nas zonas rurais se come carne de iaque crua, bebe-se leite de vaca, pratica-se agricultura ao ar livre e em estufas. Vi também plantarem árvores junto a zonas ribeirinhas, cujo objectivo era criar equilíbrio na natureza e evitar que as areias se levantem e prejudiquem a aldeia. Pouco posso dizer sobre o budismo tibetano e suas crenças, pois é mais complicado do que possa parecer, no entanto há apego e respeito pela natureza que faz com que sintamos inveja. Ao contrário do que muitos possam pensar, os monges budistas não são vegetarianos. Não podem casar, não podem beber álcool.
Tuk xexé (obrigado) ao povo tibetano.

Notas:
-O monte mais alto a que subimos tinha 4441 metros de altitude, de onde se avistava um enorme lago azul-turquesa. Até chegar lá fizemos 36km de estrada a serpentear montes áridos, uma paisagem montanhosa de perder de vista.
-Ta shi Delek (olá)
-Galik shuk (adeus), ao que respondem, aqueles que ficam, galik pip.
-Viagem Cantão-chonqging-Lhasa. A sobrevoar a zona montanhosa entre Chonqging e Lhasa a turbulência é violenta e constante.
-Ao contrário de muita gente, adoro comida de avião, mesmo que seja asiática. Acho que a altitude provoca-me tal fome que como tudo o que me aparece à frente, até o que é mais esquisito, como beber iogurte natural e comer amendoins com um molho estranho, ao mesmo tempo.
-A moeda que circula no Tibete é o RMB Yuan, mas não sei porquê, não aceitam moedas.
-Os funcionários públicos não podem ser praticantes de budismo tibetano. Têm mais fácil acesso a estes cargos os chineses, em detrimento dos tibetanos.
-A agricultura e o turismo sustentam a economia. Várias gerações e famílias inteiras (pais, irmãos, esposas, etc) vivem na mesma casa, normalmente vivendo da agricultura. É normal haver apenas um salário a entrar em casa.
-Água canalizada não há. Nos pátios tudo gira em torno da fonte. Lavar os dentes, lavar a roupa, recolher água para cozinhar, lavar a louça, etc. Quando existe água canalizada, como nos hotéis, provém de depósitos colocados no terraço do edifício. Raras vezes há telhados, mas sim terraços. Uma óptima forma de aproveitar ao máximo o calor do sol.
-Vi duas famílias usarem uma máquina de lavar nesses pátios. A máquina está na rua, colocam a roupa, colocam a água. No final limpam a máquina, voltam a colocá-la na caixa de cartão e arrumam-na a um canto. As máquinas são diferentes, provavelmente adaptadas ao facto de não haver água canalizada.
- Os tibetanos andam sempre a rezar os mantras, como se murmurassem repetidamente.
- Cumprimentam-se com aperto de mão
- Na estrada, para avisar que a polícia está a fazer uma operação stop, fazem sinal de luzes; Ao atravessar túneis, em vez de ligarem os médios, ligam os quatro piscas.

Sensação de estar no tecto do mundo
Quando se chega, sente-se dificuldade em respirar, principalmente após subir algumas escadas, pois temos de subir mais devagar e mesmo assim ficamos exaustos, mas depois de um dia ou dois é como se estivesses em qualquer outro ponto do globo. O céu está sempre azul e as montanhas, com neve ou não, dão uma sensação de imensa liberdade. O frio magoa o nariz e seca a pele.

“Saibaidii” Laos



O final do triângulo dourado do Mekong

Nesta viagem muitas fotografias ficaram por registar e o primeiro texto escrito desapareceu. Lembro-me de 5 disparos que dei com a máquina, em vão, para captar uma aldeã com dois ratos de campo dependurados e a pedir dinheiro por eles. O nosso guia confirmou que estes bichos comem-se e não tardaria, iam para o tacho. Estávamos perto do almoço, nos arredores de Luang Prabang, no Laos. Visitámos uma aldeia, antes de andar de caiaque. A vida por aqui é pobre, pobre até naquilo que muitas vezes nem imaginamos, como a questão da saúde. Ao entrar numa casa, uma palhota térrea, ampla, de terra batida e com várias camas, ou algo parecido com camas, vimos que estava alguém lá deitado. Uma senhora que estava doente. O nosso guia disse que as pessoas tentam curar-se com mezinhas até à última da hora, até decidirem partir para o hospital. A maioria já não consegue chegar ao hospital. O dinheiro é escasso e consegue-se pela venda de produtos locais, como pequenos animais ou hortícolas.
Esta é uma realidade que seria previsível de encontrar. Agora vamos à parte mais divertida (salvo seja), o caiaque. Remámos uma meia hora, com mudanças e trocas de caiaque pelo meio, mas desistimos… era demasiado puxado para quem passa a vida sentado, sem exercício. Também o trekking, a serpentear pela montanha, foi feito a um ritmo muito lento. Estava demasiado calor e atravessávamos zonas sem qualquer sombra.
Além do caiaque e do trekking, passeamos pelo Mekong para uma viagem relaxante com o pôr-do-sol como cenário e passámos bastante tempo na esplanada à beira-rio junto à nossa guesthouse, para não falar da feirinha de artesanato a perder de vista. E as sandes à moda do Laos deliciavam ao jantar.
Antes de chegarmos a este pequeno cantinho perdido, fizemos uma viagem com algumas atribulações.
De Macau para Banguecoque, de Banguecoque para Udon Thani (no norte da Tailândia). Aqui estava planeado ficar num belo resort antes de seguir para o Laos. Uma noite que se previa retemperadora de energias para entrar na aventura do Laos… mas, claro está, os voos internos atrasam sempre. Chegámos tarde e cansados mas tínhamos o pessoal do resort à nossa espera… o carro em que íamos antecipava o melhor do melhor, mas quando chegámos à nossa cabaninha à beira do lago, percebemos que não tinha telefone. Não podíamos ficar ali sozinhos sem telefone… e se acontecesse alguma coisa? Reclamámos… queríamos ir à recepção, mas não havia… mas que raio!!! Exigimos sair dali para um hotel na cidade. Ainda vimos um e depois outro, onde acabámos por ficar… era urgente descansar!!! Na manhã seguinte teríamos de perceber como iríamos atravessar a fronteira para chegar ao Laos. Fomos de autocarro, depois de tuktuk e atravessámos a fronteira a pé, apanhámos outro tuktuk até chegar a Vientiane a capital mais despoluída do mundo. Na verdade não parecia a capital de um país. Tão sossegado que convidava a uma volta de bicicleta. Muito para ver não havia, mas soube muito bem andar de bicicleta… hum… como gosto pedalar e de levar com o ar na cara. Um ou dois dias por aqui é mais do que suficiente. Até Luang Prabang, fomos de avião, 40 minutos, mas os nossos amigos, com quem nos encontrámos em Luang Prabang, demoraram “apenas” 12 horas de autocarro. Os aeroportos domésticos parecem estações de autocarro. Deste vez, ao contrário de muitas outras viagens, fizemos um seguro, já que o pequenino susto relacionado com saúde que vivemos no Vietname nos alertou.
Terminou esta nossa viagem, depois de muitos templos, monges, Mekong, esplanadas, artesanato e gente simpática!!
Khawp jai «obrigado»

Pequenas curiosidades
*A influência francesa sentia-se nas cidades, casas coloniais e menus em francês. “Ici on parle français” podia ler-se, por vezes, à entrada das lojas.
*Luang prabang – património da Unesco – 26 mil habitantes, contra os 234 mil da capital Vientiane.
*Às 11h da noite encerra a vida nocturna e minutos depois a cidade parece ter avançado umas horas, e as ruas desertas parecem dizer 4h da manhã… nem os bares ficam abertos até mais tarde… aqui levanta-se cedo e deita-se cedo.
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Welcome to Cochinchina


Pensava eu que ao dizer algo como “ só se for na Cochinchina”, querendo dizer que seria algo longe ou impossível, seria uma expressão apenas. Não sabia que algum dia eu iria à Cochinchina. Esta era uma região sul do Vietname, onde se situa a cidade de Ho Chi Min, antiga Saigão. O Vietname sempre me fascinou, talvez pelos filmes sobre a Guerra com os americanos. Viemos de autocarro Siem Rieap, no Cambodja, passámos por Phenom Penh e seguimos para a fronteira com o Vietname. Passámos um dia inteiro em viagem. Há uma zona, que não sei se é terra de ninguém, perto da fronteira com o Vietname onde se vêem casinos, o que achei bastante estranho, pois é preciso haver licenças especiais para operar e coisa e tal. E o que tinha de engraçado eram os nomes “Las Vegas Sun”, “Le Macau” e umas outras quantas imitações.
Já em Ho Chi min, uma cidade agitada, com 9 milhões de pessoas e 5 milhões de motas, eu decidi entrar com o pé direito…perdão…com o corpo todo. Passo a explicar: com mochila às costas, mochila à frente, claro que só poderia mesmo era tropeçar e cair…espalhei-me toda!!! Fiquei com os joelhos esfolados, que nem os putos. E ainda hoje cá está a mazela para comprovar. Adiante. Não tínhamos hotel marcado, como é normal, e andámos à procura. Na rua onde estávamos há cerca de 100 hotéis (quer dizer pensões, guesthouses, hostel). O difícil era encontrar algo decente e com preços decentes.
Depois de uma noite bem dormida, havia que rentabilizar o tempo e rumámos pela manhã para dar uma volta (tour) pelo rio Mekong, cor de terra, que já fez um longe percurso desde o Tibete, passando pelo Laos e Camboja. Primeiro fizemos uma paragem numa fábrica de artesanato, onde trabalham bastantes pessoas com deficiência, consequência da guerra. Muitas desta oficinas são geridas pelo governo, para dar emprego às vítimas, por exemplo, do gás laranja, mas não é o suficiente para empregar os cerca de 5 milhões que há no país.
Depois de uma Floresta Flutuante no Camboja, a volta pelo Mekong não foi assim tão interessante, até porque estávamos sempre a parar para ver mais um tipo de artesanato e, claro, onde nos incitavam a comprar…Nesta zona, o Mekong tem três grandes ilhas e as pessoas vivem da exploração do coco (vinho, rebuçados, etc, etc) e da pesca do peixe elefante.
No dia seguinte, fomos ver os túneis que os Vietcong escavaram para se defenderem durante a Guerra. No total existem 200Km de túneis. O bulício da cidade é uma constante desde muito cedo, é um ruído muito característico da cidade. Segundo o nosso guia, todos os anos há cerca de 150 a 200 mil mortos e feridos devido a acidentes de viação, muito por causa da fraca protecção, por exemplo em termos de capacetes.
Ora, já nos túneis de Cu Chi percebemos que eles faziam toda a sua vida debaixo da terra e tudo estava pensado ao pormenor. Por exemplo, o fumo da cozinha era encaminhado para vários metros de distância da própria cozinha, para despistar o inimigo. Andámos dentro de um túnel, mas eu só andei uns metros e saí logo…senti-me claustrofóbica.
Véspera de natal. Tínhamos que apanhar o avião até Danang no centro do Vietname. Não tínhamos hotel marcado. O voo estava atrasado duas horas e não havia telefones públicos no aeroporto. Queríamos tentar reservar um quarto uma vez que íamos chegar muito tarde. O jantar de natal foi uma lasagna vegetariana, Club sandwich e coca-cola. Mas é engraçado ver as decorações de natal em todo o lado. O natal sente-se ao rubro, mas penso que seja apenas o natal comercial. Chegámos a Danang às 2h da manhã e o primeiro hotel não quis abrir a porta…seguimos para outro e lá nos abriram a porta. O hotel era muito mau, arranhavam a muito custo umas palavritas de inglês…mas queríamos era um tecto e no dia seguinte íamos embora. Azar…porque às 5h da manhã o Rog tremia de febre. Saquei do guia do Lonely Planet para ver qual o hospital que havia e se inspirava confiança. Lá fui com ele de táxi, meia de pijama, meia vestida. Não havia triagem, entrava-se directamente para a sala de tratamento das urgências, onde estavam 6 camas alinhadas. O pessoal médico foi fantástico, falavam bem inglês, fizeram análises, explicaram tudo. Deram-lhe uma injecção para baixar a febre. Ainda bem pois mesmo que quisesse comprar medicamentos, aqui não há nenhuma farmácia de serviço à noite. Paguei 10 US dólares pela consulta. Um pormenor engraçado foi a chegada de um médico ou enfermeiro, sei lá, com escova dos dentes na mão e toca a lavar os dentes na pia onde os médicos lavam as mãos…liiindo! O regresso para o hotel foi um bocadinho stressante…para já os táxis andam a 5km/h para fazer render o taxímetro, e o taxímetro parece que anda mais rápido…Esqueci-me do nome do hotel!!! Pois é, como chegámos de noite, já tarde, a um hotel qualquer, não fixei o nome. Só sabia que ficava na mesma rua onde estava o outro recomendado pelo Lonely Planet e que se recusou a abrir-nos a porta. Então pedi ao taxista para ir para essa rua. Mas a rua parecia ser maior, não sei…estava a ficar ligeiramente em pânico pois não estava a ver o hotel em lado algum e o rog estava encostado a mim, sem forças, atordoado com a febre. Bem quando chegámos ao hotel o taxista cobrou-nos o triplo do que devia!!! Com o rog como estava nem tempo tive de “dar umas estaladas” ao taxista pela roubalheira!
O dia de natal foi passado no hotel/espelunca que nem restaurante/café tinha. O Rog não podia sair para lado nenhum. Comecei a fazer daquele bairro, o meu . Em frente tinha o banco onde podia trocar dinheiro, ao lado uma farmácia (hum que conveniente), todos dias à mesma hora, à entrada estava um café ambulante, com um café vietnamita maravilhoso, com leite condensado, depois chegava a sra. das baguetes e da carne fresca. No segundo dia descobri um supermercado fantástico. Só não consegui acertar com os correios. No dia seguinte, veio um médico ao hotel (não sei como descobriram onde era), para ver se o Rog estava bem, e até trazia um ramo de rosas…(como ninguém dá nada a ninguém, ainda perguntei quanto era ehhehe). Fiquei deveras impressionada.
Com este contratempo, tivemos de reajustar as nossas férias. Estava previsto ir a Hanói, Halong Bay e regressar de avião para Ho Chi Min. Eu já estava a pensar que dali teria de ir directamente para Ho Chi Min e que as minhas férias tinham terminado. Mas, eis que o Rog recupera da sua febre Dengue e ao terceiro dia reiniciámos as férias. Tivemos que ir alterar os voos que tínhamos, pedir reembolso, blá blá bla. Ainda conseguimos ir ver a pequena vila de Hoi Na, património da humanidade, onde andámos a maior parte do tempo de bicicleta, que eu adorei, porque adoro andar de bicicleta. Fomos ver os campos de arroz, que nesta altura estavam castanhos de lama e não verdes.
Depois fomos a Hue de autocarro, demorando 4 horas de viagem, e passei pelo túnel mais comprido em que já passei até hoje, 16km, parecia que nunca mais acabava. Bem, aqui o nosso hotel era demais. Era numa rua estreita que ninguém dava com aquilo. Éramos os únicos clientes. Os trabalhadores eram dois irmãos, muito simpáticos, mas que de inglês pouco ou nada percebiam. De vez em quando falhava a luz e tinha que se esperar que voltasse, pois não havia gerador, nem nada. Ainda bem que não falhou comigo dentro do elevador! Na última noite fomos convidados para jantar com a família (os pais estavam ausentes). Gostei muito de visitar o túmulo do último imperador, que era uma zona onde ele ia passar férias, com jardins, rio e lago…senti-me ser transportada verdadeiramente para outro tempo.
Regressámos a Ho Chi Min de avião, pernoitámos, e de manhã rumámos a Macau. Parece que tudo passou demasiado a correr, mas foi uma viagem cheia de aventura, como sempre. A próxima: Laos, para encerrar o triângulo dourado do Mekong, depois da visita ao Camboja e Vietname.

O início do triangulo dourado em torno do Mekong: Camboja



Camboja ou cam pu chia
Quatro dias num dos países mais pobres da Ásia, povoado de gente humilde. Um povo que ainda está a recuperar de um dos regimes mais sanguinários de todos os tempos, khmer vermelhos. Na capital do país, Phnom Penh, com apenas uma das estradas principais em alcatrão e as restantes em terra batida. Uma capital que não parecia uma capital. Pouco havia para ver nesta cidade a não ser a prisão Tuol Sleng, ou S21, onde foram encarceradas e torturadas milhares de pessoas, e os chamados Killing Fields, campos de morte para onde eram levadas as pessoas que depois eram mortas e enterradas em valas comuns. Em três anos, foram mortas mais de 1 milhão de pessoas (cerce de 15% da população), numa operação a que Pol Pot, o líder do regime, considerava o ano zero do Camboja. Apesar de esta ter sido mais uma viagem de lazer, para conhecer mais uma cultura, é importante ficar também a conhecer esta dura realidade que faz parte da história do país. Além disso, foi uma viagem bastante interessante. Um dia em Phnom Penh e no dia seguinte partimos para Siem Reap. Claro que com a troca de fuso horário em apenas uma hora, levantámo-nos às 5h30 a pensar que eram 6h30 e lá tivemos de esperar uma hora até que o resto do grupo se levantasse. O quotidiano é tão ‘deixa andar’ que duas amigas que estavam connosco pediram, cada uma, um expresso e o que veio foi apenas um expresso que o empregado pediu para partilharem, pois já não havia mais. À tarde, seguimos de autocarro numa viagem que durou 6 horas até Siem Reap, sempre com o autocarro a apitar de segundo a segundo, mas alguém conseguiu dormir toda a viagem. A paisagem era rural e a televisão do autocarro transmitia karaoke cambojano que, de tanto ouvir, quase conseguia trautear. Devido ao facto de ser bastante turístico, Siem Reap tem mais aspecto de capital do que Phnom Penh. Aqui conhecemos uma guesthouse chamada Babel, gerida por um espanhol e um italiano. Muito simpáticos e com um ambiente muito cool. O que nos trouxe até aqui foi o conjunto de templos, património da Unesco, denominado Angkor Wat, que é simplesmente magnífico. Alugamos uns tuktuk, conduzidos por uns jovens simpáticos e lá fomos. É como sermos transportados para outro tempo, apesar das nossas máquinas do tempo, os tuktuk, não serem lá muito avançados tecnologicamente… heheheh! A arquitectura de cada tempo revelava uma magnificência esplêndida, no entanto bastante destruídos pelo passar do tempo. O tour terminou no alto de um templo para onde quase toda a gente se dirigia para assistir a um maravilhoso pôr-do-sol, como referenciava o guia do Lonely Planet. No último dia, não sabíamos o que fazer, no entanto sabíamos que havia algures uma aldeia flutuante. Ora vamos até lá! Surpreendeu-me deveras. Talvez por não saber o que ia encontrar, não tinha grandes expectativas. Fomos de tuktuk até uma zona bastante rural, depois tivemos de ir de mota até uma zona onde poderíamos apanhar um barco, uma vez que estávamos na época seca e o caudal de um dos rios estava bastante recuado. Ainda ‘caí’ da mota duas vezes, mas sem estragos, porque o caminho era de areia. Seguimos de barco até ao Tonle Sap, um lago enorme, (época seca 2 600 km2, época das chuvas 24 600 km2) e pelo caminho visitamos uma aldeia flutuante, onde até os currais dos porcos estava em cima da água a flutuar e onde toda a vida quotidiana se fazia, em cima da água. O dono de uma das casas arranhava francês. As casas encontravam-se a seis metros acima do nível da água, mas na época das chuvas a água subia cerca de 4 metros. As imagens falarão por si. A viagem relaxante pelo silêncio e mística da floresta flutuante valeu por mil spas. Simplesmente lindo! A viagem também passou no centro do lago, com alguns aventureiros a lançarem-se à água para um mergulho. Esta aventura terminou numa escola local, com a distribuição de cadernos e lápis aos alunos, todos eles carenciados. Terminou assim a curta visita a um país que fica na memória.
A viagem continua no dia seguinte (22 de Dezembro), de autocarro novamente, até Ho Chi Minh (antiga Saigão), que demorou 12 horas. A viagem pelo Vietname em breve...

Três dias em Banguecoque - Veneza do Oriente

Se pode ou não ser comparada a Veneza, não sei porque não conheço Veneza, mas o que é certo é que parte da cidade é serpenteada por canais e a população ribeirinha vive virada para estes canais, seja para navegar neles, seja para neles depositar o lixo. A água é acastanhada. Mas tem vida! Desde os peixes aos minicrocodilos.
Ao contrário do que pensávamos, Banguecoque não surpreendeu. Na verdade, é mais uma cidade cosmopolita. Ou será por pensarmos que é mais uma igual a tantas outras na Ásia. Com inúmeras ofertas a todos os níveis: centros comerciais, lojas e vendas ambulantes por todo o lado, ofertas turísticas – mas poucas – e, claro, experiências sexuais!
O transporte público pela cidade pode fazer-se através de metro, skytrain, barco, táxi, tuktuk e mota, dependendo das zonas. Na viagem de barco que fizemos para subir o Chao Praya tenho a certeza que o barco ia sobrelotado, nem sequer nos podíamos mexer, à semelhança daquelas histórias que por vezes ouvimos na televisão. As ofertas gastronómicas pelas ruas, claro que têm cheiro e sabor asiático. Algumas com uma imagem atractiva, outras com uma imagem que mete nojo, como os gafanhotos e as larvas fritos. Era a festa do Buda e, por isso mesmo, havia mais agitação. Fomos arrastados por um rio de multidão até a um templo, que, claro está, desistimos ver e, mal nos libertámos da multidão, fomos embora. Um dos centros nocturnos mais famosos é uma rua cheia de tendas de comércio e lojas a oferecer as mais diferentes experiências sexuais. Da rua, viam-se as meninas a dançar no varão e na rua estavam os vendedores com a lista de serviços na mão a incentivar os clientes…pussy pingpong, pussy cigarrete, pussy trowing arrows, pussy drinking beer etc. etc.

Ora dá cá um beijinho, repenicadinho (Cebu, Filipinas)


Para quem esperava passar os dias de papo para o ar, com um sol magnífico a aquecer a alma e um mar escaldante de águas transparentes a bater nos pés, enganou-se bem enganadinho! Ir para Cebu City, mais propriamente a ilha lá ao lado, Mactan, não foi a melhor opção. Para além disso, aproximava-se um tufão das Filipinas e, lá diziam os meus tetravós que “quem tem c*** tem medo”. Tínhamos apenas a primeira noite reservada num “hotel” (já explico o porquê das aspas) e íamos depois ver o melhor sítio, com o melhor preço, para ficar o resto das noites. Ao percebermos logo no primeiro dia que não havia praias, mas sim resorts com piscina, poderíamos ter rumado a Malapascua no norte da ilha de Cebu, que parecia ser um destino com praias paradisíacas. Mas para isso teríamos de viajar três horas de autocarro e não sabíamos ao certo se essas três horas não seriam muitas mais. Não sabendo também os estragos que o tufão iria fazer, resolvemos ficar no mesmo lugar. Também poderíamos ter ido de barco para outra ilha próxima, no entanto, eu continuava receosa com a passagem do tufão. Na realidade, o tufão passou no norte das Filipinas e nós estávamos no sul. Apenas sentimos um pouco mais de vento e chuviscos.
Ora, regressando à parte do hotel, reservado pela internet e que dizia que tinha praia a 5 minutos, passo a explicar o porquê das aspas. Não era propriamente um hotel, mas sim uma residência de estudantes com escola de inglês no rés-do-chão. Mas os quartos até eram simpáticos. O pequeno-almoço é que nem experimentámos… como boa escola que era, o pequeno-almoço tomava-se cedo, entre as 7h e as 8h30. Tinha uma piscina…perdão…tanque… Mas digam lá quantas escolas é que têm piscina, hein!? Os estudantes, aparentemente, são provenientes da Coreia, entenda-se do Sul. O pessoal trabalhador era impecável e, claro está, tinham um inglês fantástico.
Precisávamos de ir dar uma volta, de comer, então fomos até ao Centro Comercial mais próximo de transportes públicos, os chamados jeepneys. Param em qualquer lado e são muiiito baratos (0,10€ a viagem). Para os chamar, podemos repenicar um beijo, assim como os trolhas fazem às meninas que passam, e o motorista pára. Este som é usado quando estamos à espera e também serve para mandar parar. Ou então, bater com a moeda no tubo de apoio também é um procedimento. Este barulhinho passa a ser a campainha deste “autocarro”. Nunca ousámos usar o beijinho. Quer dizer, experimentámos num café e o empregado olhou para ver se estávamos a chamar. É isto que gostamos… de nos imiscuir entre o povo, para perceber os seus hábitos. A verdade é que havia muito pouco para fazer e os jeepneys tornaram-se a parte engraçada. O povo era pobre, mas simpático e deixava-se fotografar (na China é uma seca, ninguém se deixa fotografar).
Decidimos então ir ver alguns resorts para perceber qual o que teria melhor praia para nos mudarmos. A dada altura tivemos de ir noutro transporte público, um triciclo, uma bicicleta com sidecar, muito velho e com um rapazola sujo, roto e desdentado, a pedalar. E os miúdos, ao longo da nossa curta viagem, corriam ao nosso lado ou penduravam-se numa total animação. Parámos num resort no meio do nada e estava, literalmente, às moscas. A praia era um bancozito de areia e o mar cheio de algas… não parecia que alguém alguma vez sequer tivesse usado aquela praia. Fomos embora a pé, já que o nosso maravilhoso motorista-pedaleiro foi embora. Mas, mais à frente, encontrámos um grupo de rapazes a jogar ao pião. Há tanto tempo que não lançava um pião e, afinal, consegui à primeira. Enquanto isso, o Rog negociava uma viagem a três numa lambreta para vermos outros hotéis. Sem capacete e de cabelos ao vento, ao final do dia….digam lá que não é romântico!!! Diria mais…invejável. Lá fomos nós…a verdade é que…praia nem vê-la…
Então, já que tínhamos que nos contentar com piscina, optámos por procurar alojamento mesmo em Cebu City, para podermos deambular e visitar a cidade, que também não tinha muito para ver. Uns amigos de Macau também estavam em Mactan e foi com eles que fomos fazer umas visitas em Cebu. Visitámos a basílica de S.to Niño que mais parecia Fátima em dias de romaria. Em todo o lado, viam-se manifestações religiosas: as senhoras que vendiam velas e diziam umas rezas enquanto faziam uma pequena coreografia; queimavam-se as velas e abençoavam-se pelo fogo; o santuário e a basílica sempre cheios. E havia também quem se deliciasse a fumar o seu grande charuto (nas Filipinas também se produzem). O Cristianismo aqui exterioriza-se de forma bastante fervorosa. Para além das manifestações em massa na Basílica de S.to Niño, a missa celebra-se no centro comercial, no cinema, no hotel…não há locais-padrão para dar graças. Impressionante esta devoção religiosa do povo filipino. Para não falar que todos os "fucks" na televisão eram censurados com o tradicional piiiiiii.
Visitámos uma cruz erigida a Fernão de Magalhães, recuperada em 2005 pela Fundação Gulbenkian, e outros monumentos relacionados com este marinheiro que, a mando dos Espanhóis, aqui chegou e aqui morreu, face ao grande guerreiro local, Lapu Lapu.
Não se sentia qualquer insegurança no ar, no entanto, havia alguns cartazes ao estilo “Procuram-se e paga-se recompensa” relativamente a alguns criminosos. É sempre bom conhecer as caras, não fosse um destes fulanos dar-nos boleia.

"Mama, Papa, baby, baby!" (Sri Lanka)

Do Sri Lanka viajou comigo uma família de elefantes em miniatura em ébano. E com eles veio também a ladainha “Mama, papa, baby, baby!”, que repeti em jeito de brincadeira nos dias que se seguiram.

Caos à chegada, viagem de 20Km demora mais de 1h
Na chegada ao Sri Lanka, deparei-me com uma organização, para mim, um pouco caótica, mas os cingaleses entendiam-se muito bem. Tudo tinha que ser organizado por eles porque as dificuldades de quem chega são imensas, como arranjar transporte do aeroporto para a cidade (20km, 1h20, 17€. Sim 20 km demora este tempo todo!). Recorrer a transporte público é difícil, mas ainda bem que não o fiz. Demoraria várias horas, em autocarros “podres”.
O hotel que tinha reservado pela Internet era afinal pior do que parecia. Mas é sempre assim! Depois de deixar a bagagem, e querendo dar um passeio pela capital, Colombo, “fui obrigado” a comprar um tour (7 dias, 6 noites, 475€) pelo Sri Lanka. Eu queria fazê-lo sozinho, de comboio. Ainda bem que não o fiz! De início, tendo em conta que iria visitar os locais que tinha previsto, motorista – suposto guia, que para isso pouco servia –, gasolina, hotéis baratos, até me pareceu razoável o preço, de imediato. Mas, afinal, era caro, segundo o motorista!

Muito simpáticos, mas sempre para ganhar o deles

À saída, fui interceptado por condutores de tuktuk (triciclo motorizado) para me levarem onde eu quisesse. Não sabia para onde ir! Aceitei a proposta de um deles, depois de combinarmos o preço – quer dizer, uma parte dele, porque depois a despesa foi outra, tendo em conta que me aliciou a fazer uma visita guiada pelos principais locais da cidade (1h, 15€). Mais tarde, apercebi-me que era sempre assim: o que se combina de início é sempre susceptível de alteração… sempre em benefício deles. Outra situação, deu-se depois de ter conhecido um moço (que dizia trabalhar no Hilton, ah! ah! ah!) que, simpaticamente, me propôs visitar um mercado que só tinha lugar uma vez por ano. Mais um oportunista que fez uma viagem de borla e mercado não havia. O que ele quis foi meter-me numa loja de venda de pedras preciosas, tal como o anterior, para receberem a sua comissão! Azar… nem um nem outro tiveram sorte! Mas, saiu-me do bolso o transporte (15€). Mas pelo menos, fiquei a saber qual a pedra que corresponde ao meu nascimento: safira branca! He! He! He!
Comer em Colombo só mesmo McDonald’s ou Pizzahut!
O quarto do hotel (***) era velho e malcheiroso. O ar condicionado fazia tanto barulho que para dormir só desligado. Ainda bem que o calor não era muito à noite! Água para beber só da torneira. Não podia deixar de marcar presença a bicharada.

Vai dar-se início à maratona turística!
Pequeno-almoço tomado, eu e o motorista metemo-nos à estrada. Começou a chover! Por pouco tempo. Pensava que iria estar sempre assim porque é época de chuvas. Mas o tempo foi sendo amigo e só chovia quando andava de carro ou de comboio.
Pela estrada, fui começando a comprar algum artesanato. Já um pouco sonolento, o motorista decidiu parar numa “estação de serviço”, quer dizer barraca, para tomar um café. Quer dizer, não era café nem chá, mas era bom, que também provei, por curiosidade. Esta bebida deve ser acompanhada por “jiggyri” (espécie de mel de coco em cubos).

Voltando à estrada, passámos por um camião que transportava um elefante. Parou e resolvi sair do carro para tirar umas fotos. Até me convidaram a subir para o camião, mas no fim… 100 rupias (0,7€) para manutenção do animal. Ora toma!

Anuradhapura – património mundial
Os turistas estrangeiros devem pagar bilhete em determinados locais (2500 rupias, 18€). Optei por não pagar, pois muito ainda havia para visitar. Até porque era fácil entrar pela ‘porta do cavalo’, arriscando-me a ter de pagar se alguém desse conta.
A hora do almoço nunca era certa! Eram cerca de quatro da tarde e a fome apertava! Decidi provar a comida local e fiz companhia ao motorista numa “restaurante” da cidade. Tentei comer devel de frango (prato de arroz acompanhado de vários molhos, com carne ou peixe), mas era demasiado picante. Pedi à senhora que lavasse o frango. Não voltei a ingerir comida local. Outra característica é não haver talheres. Come-se com as mãos… devidamente lavadas antes e depois!

Vai um tombo?
No hotel em que fiquei, um dos funcionários desafiou-me a ir dar uma volta de bicicleta até ao lago. Boa ideia! Não fosse o tombo que dei, a chuva que entretanto começou e ter-me perdido no caminho de regresso quando já anoitecia! Valeram-me umas famílias de pobres que “moravam” perto, em tendas, com cães e tudo. De início, fiquei atemorizado, mas não fossem eles a indicar-me a direcção da estrada, que voltas me faltariam dar?
Costumava retirar-me para o quarto bastante cedo! Acedia à Internet depois de jantar nos hotéis que a tinham. Era a minha distracção nocturna, além do livro que sempre me acompanhou. Ainda bem que era daqueles grossos.

Ao terceiro dia
Que belo acordar! Bater pratos e cheiro a fritos! Estava na hora do pequeno-almoço. 07h00.
Ainda me faltava ir ao Sri Maha Bhodi, o maior santuário budista do Sri Lanka, segundo o motorista. Será? Iria perdê-lo se não insistisse. O santuário está sempre apinhado de gente em peregrinação e é uma área enorme. Não fui a todos os lugares. O tempo urgia!
O almoço do dia anterior levou-me à farmácia comprar Imodium. O picante tinha-me dado a volta ao estômago durante a noite. Venda à unidade: 6 comprimidos, 120 rupias, 0,90€.
Seguia-se a cidade de Mihintale. Património mundial do templo com o mesmo nome da cidade, numa colina e talhado num enorme rochedo.

A caminho de Pollonarwa tivemos de parar para arranjar o ar condicionado. Provisoriamente, ia funcionando, mas, de vez em quando, era necessário dar um toque.
15h00 – Almoço em Pollonarwa. Parecia-me bem: buffet não picante, segundo a empregada. Até era barato, 5€, mas afinal picante. Não comi. A última noite deixou-me um sério aviso. Vai uma sandes e um sumo. No hotel foi à grande e à francesa… um jantar alargado, com tudo a que tinha direito, acompanhado de música (10€). Há três dias que não comia nada de jeito.

Valha-nos o Lonely Planet!
Acordei cedo, ao som da passarada e dos macacos, virado para uma paisagem luxuriante, com um lago ao fundo. Porta da varanda aberta sem vigilância é macaco a entrar no quarto para o gamanço. Estava alertado! No problem!
É preciso continuar! Depois do pequeno-almoço, Siggyria, património mundial. Uma antiga cidade onde se situava o palácio do rei em tempos recuados, séc. V.
Mais uns quilómetros e Dambulla com o seu Golden Temple, que integrava uma dagoba (em cingalês, local onde são guardadas relíquias de Buda) e uma estátua gigante de Buda, ambos em folha de ouro. Também património mundial são os Templos das Cavernas, escavados numa rocha, contendo frescos (quase a desaparecer), imagens etc. Mais um local que o motorista desconhecia. Graças ao guia lonely planet, obriguei-o a voltar atrás, quando já nos íamos embora.
Adiante!

Vai uma massagem?
Parámos num centro ervanário ayurveda. Depois de uma pequena lição sobre as mais diversas ervas e plantas, ao vivo, e algumas massagens com extractos, acabei por comprar alguns produtos naturais (15€), além de pagar as massagens (2€) que não pedi.
Fim da tarde e chegámos a Kandy, cidade património mundial. Check-in no hotel e ida a uma colina onde, além de visitar mais um templo budista, podia ter uma panorâmica geral da cidade.
17h00 – Almoço não tinha havido, além de umas bananas. Comi uma sandes no Centro Cultural de Kandy, à espera de um espectáculo de danças tradicionais (3,50€). Ainda tive possibilidade de visitar o Templo do Dente de Buda (entrada: 3,50€). Estava muita gente. O local onde se encontra o dente é fechado, não se vê. Está coberto por uma dagoba de prata em miniatura. Crê-se que o dente seja apenas uma réplica e o verdadeiro esteja em lugar desconhecido. Até há quem diga que quando os portugueses chegaram, levaram o dente para a Índia e venderam-no lá; depois, outros trouxeram um falso.
Estava com fome e não havia nada que se parecesse com comida ocidental. Apareceu o KFC. Que remédio! Até salivei. A fome era negra. Em todo o Sri Lanka, não me era fácil encontrar
comida ocidental.

Por entre curvas e chá… brrrr

De manhã, fiz uma visita a pé em redor do lago. São uns quilómetros! Os tuktuk é que não largam.
A caminho de Nawara Ellia, sempre a subir e o estômago a dar voltas com as curvas, aproveitei para conhecer o fabrico do chá e as montanhas retalhadas por plantações de chá. Por momentos, recordei os íngremes vinhedos da minha terra natal em época estival, o Douro. Desfiz a memória rapidamente pelo frio que aqui se fazia sentir.
Sendo uma das bandeiras do Sri Lanka, comprei chá verde, até porque, segundo eles, conhecedores ou apenas vendedores, me fará reduzir o nível de colesterol. Hum…

Quatro horas de pé num comboio
Depois de desfrutar de belíssimas paisagens, durante a viagem de comboio que me levou de Nanu Oya até Ella, continuei a assistir ao deslumbramento da natureza, mesmo chovendo e com a neblina a dar-lhe um aparência insondável. Uma viagem nada atribulada, não fosse ter de ir cerca de quatro horas em pé, com um frio como já não sentia desde Dezembro, perto da Serra da Estrela. Um episódio hitchcockiano: no meio da linha, entre os trilhos do comboio, corvos, muitos corvos mataram à bicada uma pomba… e comeram-na, claro! Quase ninguém na estação, eu e um casal de turistas.
Ella, pequena cidade de montanha. Toca a saltar para o meio da linha! Noite cerrada e pouca luz. Mais uma guesthouse, velha, quarto barulhento ou outro onde chove, mas sem mesa-de-cabeceira! O segundo, se faz favor! Valha o frio! Não é preciso rede mosquiteira.

Lhac… que sobremesa “deliciosa”!
Agradável foi o acordar. Que bela vista! A paisagem surpreendia-me sempre, apesar da chuva que mais tarde se ia misturando com a neblina e abafando a natureza. A passarada não desistia e dava sinal.
Primeira paragem: centro médico ayurveda (“ciência” médica oficial da Índia; medicina tradicional eficaz, dizem). Tinha-me queixado de dores numa perna, mas as massagens já eram para mãos, pés, cabeça etc. Saí a correr! Que chatos!
Descer a montanha até à costa foi um suplício, curva sim, curva sim. Tive de parar com a tortura e mais umas fotos a uma cascata e compra de… pedras. O motorista dizia que eram pedras da rua. Sendo assim, só no Sri Lanka é que se encontra em qualquer lado quartzo, por exemplo. Duvido.
Íamos em direcção a Galle. Pelo caminho, mais artesanato da zona e toca a provar uma sobremesa, curd. Desisti à primeira colherada da taça de leite de búfala cozido com mel de coco por cima. Os cingaleses adoram. Bom proveito!

Vestígios portugueses aqui?

Bordejando a costa sul, chegámos à cidade, outrora portuguesa e mais tarde holandesa. É esta traça que guarda em quase todos os seus vestígios. Decidi percorrer a pé o Forte de origem portuguesa, conquistado e reconstruído holandês. Entretanto, comprei pedras preciosas – eu que resisti sempre – moonstones (pedra lunar). Quatro carates: 20€. Baratas, acho. Quem ficou a perder foi o motorista que não recebeu comissão porque não tinha ido. Mas esta compra seguiu-se ao pedido que uma pessoa, já velhota, me fez: traduzir quatro palavras para português. Iam receber um grupo de portugueses em breve e a loja não tinha nada escrito em português. Ainda, desde o alto do Forte pude assistir, como tantos outros nativos e outros turistas, a um jogo de críquete. Umas fotos e fui embora. Que seca! Não conheço nada sobre as regras.
Estava cansado. Em Hikkadwa, almocei um arroz vegetariano. A oportunidade de ver os pescadores em cima das estacas ficou gorada, pois não eram horas e tinha de ir. Só havia estacas. Bom… para o hotel.

As tartarugas que restaram depois do Tsunami

Em Hikkadwa, a praia até era bonita, tendo em conta que as que vi na costa sul não me atraíam. Levantei-me bastante cedo e fui dar uma volta na praia.
Pequeno-almoço tomado e aí vou eu até Negombo, cidade ao lado do aeroporto, o último destino antes de regressar.
Ainda fiz uma paragem para ver tartarugas. Também fora de tempo porque todos os dias, bem cedo, se pode assistir à caminhada até ao mar de tartarugas recém-nascidas. Nunca tinha visto esses animais com tal tamanho, além da rara tartaruga-albina que, segundo o homem que me guiou – ficou sem nada aquando do tsunami –, aparece uma em cada 2 milhões.
Para evitar passar por Colombo, sexta-feira com trânsito caótico, quilómetros e quilómetros de filas, fomos dar uma volta pelo interior. Que dor de costas! Muito tempo em estradas em mau estado. E foi decrescendo a qualidade dos hotéis. Este último foi o piorzito!

Às voltas para meter a mochila no porão
Ora, lá vou eu embarcar. Para sair do Sri Lanka, ainda tive um berbicacho no aeroporto. Não me deixavam fazer o check-in com tanto peso como bagagem de mão. É preciso trocar, de novo, dinheiro para pagar o seu transporte no porão. Ora, só consegui trocar 11 ringgit (Malásia) que deu 315 rupias, mas precisava 350. Toca a trocar dólares de Hong Kong. Bem queria, mas ninguém trocava. E agora? No check-in ninguém me dava solução. Depois de muitas voltas para trás e para a frente, o responsável da companhia aérea resolveu aceitar as rupias que tinha. Pude embarcar, finalmente!
E cheguei a Kuala Lumpur. Imagine-se, faminto! Durante o resto do dia e o dia seguinte, comi refeições “decentes”: McDonald’s!!! yupiiiii!
Pernoitei num hotel low cost, ao lado do aeroporto. Quarto muito pequeno, mas com uma cama… que saudades! Curiosidade: a Internet era gratuita, mas o local onde estava era um iglu. – Não vá passar aí o dia!

Último dia, domingo
Dormi até começarem a falar no exterior do quarto. Chineses!
O pequeno-almoço era fraquinho: uma minissandes de atum e uma chávena de chá.
Agora, espera de 6h no aeroporto. Ainda tenho que acabar o livro!
Aterragem em Macau. A saída do avião só foi possível meia hora depois, devido à reparação de uma avaria. HAAAAAAAA…
** Ficaram por visitar alguns locais a que gostaria de ter ido. Talvez um dia! Há tantos outros!

Por Roger

Kota Kinabalu – o paraíso das ilhas (Malásia)

Quando vemos a Malásia nos cartazes turísticos ou nos postais, vemos praias paradisíacas. Sim, é verdade elas existem, no entanto, in locu o ambiente não é assim tão paradisíaco. Normalmente, são os empreedimentos turísticos que fazem com que tudo seja mais encantatório. Ora nós decidimos ficar num hotel na cidade de Kota kinabalu. Acontece que a cidade não tem praias, a não ser que apanhemos pequenas embarcações a motor para ir até às ilhas, demorando cerca de 45 minutos. A verdade é que se tivesse ficado num resort, estaria mais confortável (e pagaria muuitto mais), mas não passaria pela aventura de andar assim pelo mar, embatendo contra as ondas até chegar às ilhas. Chegámos e chovia, muito. A cidade não tem nada para ver, por isso foi complicado encontrar algo para que pudéssemos aproveitar o pouco tempo que por aqui estaríamos. Numa agência de viagens compramos um tour até uma vila cultural chamada Mari-Mari, que retrata a vida do povo indígena. Casinhas tradicionais e hábitos culturais que pudemos ver e em que pudemos participar, como o trampolim, que para mim foi o meu ponto alto, apesar de estar ligeiramente lesionada do meu tornozelo. Em tudo o que podia, participava. Já o R. decidiu meter-se na passa das “barbas de milho”. Sabem como é, havia que criar laços fraternos com os nossos amiguinhos “indígenas”. Foi uma experiência divertida. Fizemos o nosso próprio jantar, ou pelo menos parte dele, provámos os doces tradicionais e deixámo-nos levar pelo tempo. No dia seguinte a “escalada” era outra e fomos até à floresta. Caminhámos em pontes que me apertavam o coração, de tão altas, estreitas e baloiçantes que eram; metemos os pés em água quente sulfurosa natural numas termas; pagámos …e bem…para ver uma raflésia em flor, numa propriedade privada de uns camponeses que cobravam só para vermos as raras e gigantes flores que só existem nesta parte do mundo. A subida ao monte Kinabalu ficou para outra altura…
Ir até às ilhas “fazer praia” era a única solução. Primeiro experimentámos uma, depois outra. Na primeira, instalou-se a desilusão porque havia tantos corais que não dava para nadar e andar metida na água à vontade, mas apenas observar os peixes ou molhar os pés. Até comprei um bikini de propósito (para desenrascar, já que o meu tinha ficado em terras de Macau), muito bonito com top a tapar tudo e cueca com saiinha de folhos …liiinda!!! (não, não está nas fotografias ahahahah). Na ilha para onde fomos no dia seguinte já foi melhor, dava para andar na água. Foi neste pequeno pormenor que me senti enganada pela publicidade. As praias parecem paradisíacas, mas não são assim tanto, para não falar de que estavam bastante cheias e onde não se podia ficar para além das 17h que era a hora do último barco (a não ser que pagássemos mais).
Andar nos mercados é também um “must” para mim, contactar com os locais. O R. encantou-se com um tipo de arroz preto, comprou um saquinho e, já em Macau, fez um risoto maravilhoso. Tenho dito.

Malaca – a pequena cidade histórica (Património mundial)

Por aqui passaram portugueses, holandeses, britânicos, chineses e quantos mais, assim como nós. Os chineses esses mantêm-se de pedra e cal. Aliás, lembro-me de um pequeno episódio em que apanhámos um táxi conduzido por um chinês, que já levava uma cliente, mas pelos vistos é normal apanharem mais clientes (boa política ecológica!), até ao centro da cidade de Malaca. Para além da economia ambiental, o carro também teria economia de manutenção e afins e o motorista, com os seus olhos em bico, também teria economia de visão. Começou a chover, e muito, e o limpa pára-brisas parecia mover-se apenas porque aquele mecanismo ainda funcionava porque limpar….não limpava nada. O Sr. Motorista conduzia por instinto certamente. Já no centro da cidade, tivemos que esperar que a chuva passasse, junto aos Correios onde era proibido entrar de capacete e falar ao telemóvel. Ao lado um cartaz anunciava que era possível passar uma noite no museu marítimo em forma de caravela: “A nite in the museum” (sim nite). O meio de transporte mais caricato é o riquexó, enfeitado com fitas de enfeitar as árvores de natal, flores de plástico, bonecos de pelúcia, e música em alto som. À noite acendiam-se as luzinhas de natal e era a atracção turística. Também experimentámos um outro meio de transporte que foi o autocarro da cidade para visitarmos o bairro dos portugueses, que ficava um pouco distante do centro histórico. Desengane-se quem pense que aqui vai encontrar um bairro com arquitectura colonial portuguesa. O bairro original não existe mais. Muitos séculos passaram. Manteve-se a cultura cristang, aliás que é também o nome da comunidade, resultante da mistura entre Portugueses, Malaios e/ou Indianos, as placas com os nomes de ruas e a língua. O crioulo falado é o papiaçam cristang, um pouco parecido com o patuá de Macau. Tivemos oportunidade de sentar com um grupo de pessoas locais que falavam o crioulo, mas com quem percebemos ser difícil de comunicar, mudando muitas vezes para o inglês. Um grupo muito simpático que nos acolheu muito bem no seu café de bairro.
O bairro chinês de Malaca, que pertence ao património histórico da humanidade, é onde se desenvolve parte da vida diurna e nocturna. Esta comunidade mantém-se firme, com uma bonita arquitectura e novas gerações de chineses, já de raízes malaias, mas continuando a praticar a cultura chinesa e a sua língua. Neste bairro existe um templo chinês, uma mesquita, um templo indiano e uma igreja, reflexo da miscelânea cultural desta cidade(e do país).
O bairro, com casas tipicamente malaias, ficava num outro ponto da cidade. Umas mais engalanadas do que outras. Pessoas simpáticas. Não foi possível vê-las por dentro pois seria invasão.
Quando provámos a “malacca portuguese food” simplesmente comemos comida malaia com raízes na comida portuguesa de há muitos anos. É tão diferente que jamais lhe chamaria comida portuguesa, no entanto para quem anda longe do cantinho à beira mar plantado, como nós, imaginar que estamos a comer comida “portuguesa” faz bem às saudades.
A cidade tem bastante oferta em termos de alojamento, desde os mais baratos, aos mais caros. O hotel mais central e que compensa pelo valor que se paga e pelas condições é o Aldo. A cidade é pequena, por isso bastam três dias para visitar todos os pontos de interesse.

Kuala Lumpur - a cidade de todas as culturas e religiões

A cidade de Kuala Lumpur, capital da Malásia, é bastante multicultural. É como se fosse um centro de representação asiática. Vêm-se pessoas da Índia, Bangladesh, Myanmar, Nepal, China, Irão, Arábia Saudita. Como a Malásia é um país maioritariamente muçulmano, vêem-se bastantes imigrantes de origem árabe, e portanto vêem-se muitas mulheres tapadas dos pés à cabeça com túnicas pretas. Os dois dias que ficámos na cidade, ficámos alojados na Chinatown cá do sítio. Um local bastante animado e agitado perto de alguns pontos de interesse como a Merdeka, onde se situa o palácio do antigo sultão; o mercado central, mas que de mercado pouco tem, tendo mais o perfil de Centro Comercial; e perto do metro que nos levou até às Petronas, que foram outrora as torres mais altas do mundo. De resto, a cidade é pouco interessante e sem apoio para turistas, ou seja, encontrar um posto turístico nunca encontrámos e só percebemos um dia depois que os mapas vendiam-se nas papelarias, e não em todas. Para quem deseja visitar Kuala Lumpur, aconselho mesmo uma visita rápida, de passagem para outro local. Para mim dois dias foi mais que muito.

Nas nossas voltas pela cidade, decidimos enveredar por uma aventura gastronómica como sempre. (quer dizer, na maioria das vezes as nossas aventuras gastronómicas cingem-se a pão, bananas, água e Macdonalds).Portanto, ao avistar chamuças ao longe, num restaurante indiano, decidimos experimentar, levando em mente os sabores das chamuças portuguesas. Ora, estas eram SUPER picantes. Devíamos ter imaginado….Mas lá se comeram. Em redor, eram só homens e comiam com as mãos. Pela tarde visitámos um parque natural com várias espécies de aves, mas eu cá sou mais amante de felinos. Não dá para fazer festinhas a tucanos ou avestruzes hehehe
Ao jantar, numa aventura bem mais requintada, fomos calhar a um restaurante iraquiano e bem que se comeu!!!!