"Mama, Papa, baby, baby!" (Sri Lanka)

Do Sri Lanka viajou comigo uma família de elefantes em miniatura em ébano. E com eles veio também a ladainha “Mama, papa, baby, baby!”, que repeti em jeito de brincadeira nos dias que se seguiram.

Caos à chegada, viagem de 20Km demora mais de 1h
Na chegada ao Sri Lanka, deparei-me com uma organização, para mim, um pouco caótica, mas os cingaleses entendiam-se muito bem. Tudo tinha que ser organizado por eles porque as dificuldades de quem chega são imensas, como arranjar transporte do aeroporto para a cidade (20km, 1h20, 17€. Sim 20 km demora este tempo todo!). Recorrer a transporte público é difícil, mas ainda bem que não o fiz. Demoraria várias horas, em autocarros “podres”.
O hotel que tinha reservado pela Internet era afinal pior do que parecia. Mas é sempre assim! Depois de deixar a bagagem, e querendo dar um passeio pela capital, Colombo, “fui obrigado” a comprar um tour (7 dias, 6 noites, 475€) pelo Sri Lanka. Eu queria fazê-lo sozinho, de comboio. Ainda bem que não o fiz! De início, tendo em conta que iria visitar os locais que tinha previsto, motorista – suposto guia, que para isso pouco servia –, gasolina, hotéis baratos, até me pareceu razoável o preço, de imediato. Mas, afinal, era caro, segundo o motorista!

Muito simpáticos, mas sempre para ganhar o deles

À saída, fui interceptado por condutores de tuktuk (triciclo motorizado) para me levarem onde eu quisesse. Não sabia para onde ir! Aceitei a proposta de um deles, depois de combinarmos o preço – quer dizer, uma parte dele, porque depois a despesa foi outra, tendo em conta que me aliciou a fazer uma visita guiada pelos principais locais da cidade (1h, 15€). Mais tarde, apercebi-me que era sempre assim: o que se combina de início é sempre susceptível de alteração… sempre em benefício deles. Outra situação, deu-se depois de ter conhecido um moço (que dizia trabalhar no Hilton, ah! ah! ah!) que, simpaticamente, me propôs visitar um mercado que só tinha lugar uma vez por ano. Mais um oportunista que fez uma viagem de borla e mercado não havia. O que ele quis foi meter-me numa loja de venda de pedras preciosas, tal como o anterior, para receberem a sua comissão! Azar… nem um nem outro tiveram sorte! Mas, saiu-me do bolso o transporte (15€). Mas pelo menos, fiquei a saber qual a pedra que corresponde ao meu nascimento: safira branca! He! He! He!
Comer em Colombo só mesmo McDonald’s ou Pizzahut!
O quarto do hotel (***) era velho e malcheiroso. O ar condicionado fazia tanto barulho que para dormir só desligado. Ainda bem que o calor não era muito à noite! Água para beber só da torneira. Não podia deixar de marcar presença a bicharada.

Vai dar-se início à maratona turística!
Pequeno-almoço tomado, eu e o motorista metemo-nos à estrada. Começou a chover! Por pouco tempo. Pensava que iria estar sempre assim porque é época de chuvas. Mas o tempo foi sendo amigo e só chovia quando andava de carro ou de comboio.
Pela estrada, fui começando a comprar algum artesanato. Já um pouco sonolento, o motorista decidiu parar numa “estação de serviço”, quer dizer barraca, para tomar um café. Quer dizer, não era café nem chá, mas era bom, que também provei, por curiosidade. Esta bebida deve ser acompanhada por “jiggyri” (espécie de mel de coco em cubos).

Voltando à estrada, passámos por um camião que transportava um elefante. Parou e resolvi sair do carro para tirar umas fotos. Até me convidaram a subir para o camião, mas no fim… 100 rupias (0,7€) para manutenção do animal. Ora toma!

Anuradhapura – património mundial
Os turistas estrangeiros devem pagar bilhete em determinados locais (2500 rupias, 18€). Optei por não pagar, pois muito ainda havia para visitar. Até porque era fácil entrar pela ‘porta do cavalo’, arriscando-me a ter de pagar se alguém desse conta.
A hora do almoço nunca era certa! Eram cerca de quatro da tarde e a fome apertava! Decidi provar a comida local e fiz companhia ao motorista numa “restaurante” da cidade. Tentei comer devel de frango (prato de arroz acompanhado de vários molhos, com carne ou peixe), mas era demasiado picante. Pedi à senhora que lavasse o frango. Não voltei a ingerir comida local. Outra característica é não haver talheres. Come-se com as mãos… devidamente lavadas antes e depois!

Vai um tombo?
No hotel em que fiquei, um dos funcionários desafiou-me a ir dar uma volta de bicicleta até ao lago. Boa ideia! Não fosse o tombo que dei, a chuva que entretanto começou e ter-me perdido no caminho de regresso quando já anoitecia! Valeram-me umas famílias de pobres que “moravam” perto, em tendas, com cães e tudo. De início, fiquei atemorizado, mas não fossem eles a indicar-me a direcção da estrada, que voltas me faltariam dar?
Costumava retirar-me para o quarto bastante cedo! Acedia à Internet depois de jantar nos hotéis que a tinham. Era a minha distracção nocturna, além do livro que sempre me acompanhou. Ainda bem que era daqueles grossos.

Ao terceiro dia
Que belo acordar! Bater pratos e cheiro a fritos! Estava na hora do pequeno-almoço. 07h00.
Ainda me faltava ir ao Sri Maha Bhodi, o maior santuário budista do Sri Lanka, segundo o motorista. Será? Iria perdê-lo se não insistisse. O santuário está sempre apinhado de gente em peregrinação e é uma área enorme. Não fui a todos os lugares. O tempo urgia!
O almoço do dia anterior levou-me à farmácia comprar Imodium. O picante tinha-me dado a volta ao estômago durante a noite. Venda à unidade: 6 comprimidos, 120 rupias, 0,90€.
Seguia-se a cidade de Mihintale. Património mundial do templo com o mesmo nome da cidade, numa colina e talhado num enorme rochedo.

A caminho de Pollonarwa tivemos de parar para arranjar o ar condicionado. Provisoriamente, ia funcionando, mas, de vez em quando, era necessário dar um toque.
15h00 – Almoço em Pollonarwa. Parecia-me bem: buffet não picante, segundo a empregada. Até era barato, 5€, mas afinal picante. Não comi. A última noite deixou-me um sério aviso. Vai uma sandes e um sumo. No hotel foi à grande e à francesa… um jantar alargado, com tudo a que tinha direito, acompanhado de música (10€). Há três dias que não comia nada de jeito.

Valha-nos o Lonely Planet!
Acordei cedo, ao som da passarada e dos macacos, virado para uma paisagem luxuriante, com um lago ao fundo. Porta da varanda aberta sem vigilância é macaco a entrar no quarto para o gamanço. Estava alertado! No problem!
É preciso continuar! Depois do pequeno-almoço, Siggyria, património mundial. Uma antiga cidade onde se situava o palácio do rei em tempos recuados, séc. V.
Mais uns quilómetros e Dambulla com o seu Golden Temple, que integrava uma dagoba (em cingalês, local onde são guardadas relíquias de Buda) e uma estátua gigante de Buda, ambos em folha de ouro. Também património mundial são os Templos das Cavernas, escavados numa rocha, contendo frescos (quase a desaparecer), imagens etc. Mais um local que o motorista desconhecia. Graças ao guia lonely planet, obriguei-o a voltar atrás, quando já nos íamos embora.
Adiante!

Vai uma massagem?
Parámos num centro ervanário ayurveda. Depois de uma pequena lição sobre as mais diversas ervas e plantas, ao vivo, e algumas massagens com extractos, acabei por comprar alguns produtos naturais (15€), além de pagar as massagens (2€) que não pedi.
Fim da tarde e chegámos a Kandy, cidade património mundial. Check-in no hotel e ida a uma colina onde, além de visitar mais um templo budista, podia ter uma panorâmica geral da cidade.
17h00 – Almoço não tinha havido, além de umas bananas. Comi uma sandes no Centro Cultural de Kandy, à espera de um espectáculo de danças tradicionais (3,50€). Ainda tive possibilidade de visitar o Templo do Dente de Buda (entrada: 3,50€). Estava muita gente. O local onde se encontra o dente é fechado, não se vê. Está coberto por uma dagoba de prata em miniatura. Crê-se que o dente seja apenas uma réplica e o verdadeiro esteja em lugar desconhecido. Até há quem diga que quando os portugueses chegaram, levaram o dente para a Índia e venderam-no lá; depois, outros trouxeram um falso.
Estava com fome e não havia nada que se parecesse com comida ocidental. Apareceu o KFC. Que remédio! Até salivei. A fome era negra. Em todo o Sri Lanka, não me era fácil encontrar
comida ocidental.

Por entre curvas e chá… brrrr

De manhã, fiz uma visita a pé em redor do lago. São uns quilómetros! Os tuktuk é que não largam.
A caminho de Nawara Ellia, sempre a subir e o estômago a dar voltas com as curvas, aproveitei para conhecer o fabrico do chá e as montanhas retalhadas por plantações de chá. Por momentos, recordei os íngremes vinhedos da minha terra natal em época estival, o Douro. Desfiz a memória rapidamente pelo frio que aqui se fazia sentir.
Sendo uma das bandeiras do Sri Lanka, comprei chá verde, até porque, segundo eles, conhecedores ou apenas vendedores, me fará reduzir o nível de colesterol. Hum…

Quatro horas de pé num comboio
Depois de desfrutar de belíssimas paisagens, durante a viagem de comboio que me levou de Nanu Oya até Ella, continuei a assistir ao deslumbramento da natureza, mesmo chovendo e com a neblina a dar-lhe um aparência insondável. Uma viagem nada atribulada, não fosse ter de ir cerca de quatro horas em pé, com um frio como já não sentia desde Dezembro, perto da Serra da Estrela. Um episódio hitchcockiano: no meio da linha, entre os trilhos do comboio, corvos, muitos corvos mataram à bicada uma pomba… e comeram-na, claro! Quase ninguém na estação, eu e um casal de turistas.
Ella, pequena cidade de montanha. Toca a saltar para o meio da linha! Noite cerrada e pouca luz. Mais uma guesthouse, velha, quarto barulhento ou outro onde chove, mas sem mesa-de-cabeceira! O segundo, se faz favor! Valha o frio! Não é preciso rede mosquiteira.

Lhac… que sobremesa “deliciosa”!
Agradável foi o acordar. Que bela vista! A paisagem surpreendia-me sempre, apesar da chuva que mais tarde se ia misturando com a neblina e abafando a natureza. A passarada não desistia e dava sinal.
Primeira paragem: centro médico ayurveda (“ciência” médica oficial da Índia; medicina tradicional eficaz, dizem). Tinha-me queixado de dores numa perna, mas as massagens já eram para mãos, pés, cabeça etc. Saí a correr! Que chatos!
Descer a montanha até à costa foi um suplício, curva sim, curva sim. Tive de parar com a tortura e mais umas fotos a uma cascata e compra de… pedras. O motorista dizia que eram pedras da rua. Sendo assim, só no Sri Lanka é que se encontra em qualquer lado quartzo, por exemplo. Duvido.
Íamos em direcção a Galle. Pelo caminho, mais artesanato da zona e toca a provar uma sobremesa, curd. Desisti à primeira colherada da taça de leite de búfala cozido com mel de coco por cima. Os cingaleses adoram. Bom proveito!

Vestígios portugueses aqui?

Bordejando a costa sul, chegámos à cidade, outrora portuguesa e mais tarde holandesa. É esta traça que guarda em quase todos os seus vestígios. Decidi percorrer a pé o Forte de origem portuguesa, conquistado e reconstruído holandês. Entretanto, comprei pedras preciosas – eu que resisti sempre – moonstones (pedra lunar). Quatro carates: 20€. Baratas, acho. Quem ficou a perder foi o motorista que não recebeu comissão porque não tinha ido. Mas esta compra seguiu-se ao pedido que uma pessoa, já velhota, me fez: traduzir quatro palavras para português. Iam receber um grupo de portugueses em breve e a loja não tinha nada escrito em português. Ainda, desde o alto do Forte pude assistir, como tantos outros nativos e outros turistas, a um jogo de críquete. Umas fotos e fui embora. Que seca! Não conheço nada sobre as regras.
Estava cansado. Em Hikkadwa, almocei um arroz vegetariano. A oportunidade de ver os pescadores em cima das estacas ficou gorada, pois não eram horas e tinha de ir. Só havia estacas. Bom… para o hotel.

As tartarugas que restaram depois do Tsunami

Em Hikkadwa, a praia até era bonita, tendo em conta que as que vi na costa sul não me atraíam. Levantei-me bastante cedo e fui dar uma volta na praia.
Pequeno-almoço tomado e aí vou eu até Negombo, cidade ao lado do aeroporto, o último destino antes de regressar.
Ainda fiz uma paragem para ver tartarugas. Também fora de tempo porque todos os dias, bem cedo, se pode assistir à caminhada até ao mar de tartarugas recém-nascidas. Nunca tinha visto esses animais com tal tamanho, além da rara tartaruga-albina que, segundo o homem que me guiou – ficou sem nada aquando do tsunami –, aparece uma em cada 2 milhões.
Para evitar passar por Colombo, sexta-feira com trânsito caótico, quilómetros e quilómetros de filas, fomos dar uma volta pelo interior. Que dor de costas! Muito tempo em estradas em mau estado. E foi decrescendo a qualidade dos hotéis. Este último foi o piorzito!

Às voltas para meter a mochila no porão
Ora, lá vou eu embarcar. Para sair do Sri Lanka, ainda tive um berbicacho no aeroporto. Não me deixavam fazer o check-in com tanto peso como bagagem de mão. É preciso trocar, de novo, dinheiro para pagar o seu transporte no porão. Ora, só consegui trocar 11 ringgit (Malásia) que deu 315 rupias, mas precisava 350. Toca a trocar dólares de Hong Kong. Bem queria, mas ninguém trocava. E agora? No check-in ninguém me dava solução. Depois de muitas voltas para trás e para a frente, o responsável da companhia aérea resolveu aceitar as rupias que tinha. Pude embarcar, finalmente!
E cheguei a Kuala Lumpur. Imagine-se, faminto! Durante o resto do dia e o dia seguinte, comi refeições “decentes”: McDonald’s!!! yupiiiii!
Pernoitei num hotel low cost, ao lado do aeroporto. Quarto muito pequeno, mas com uma cama… que saudades! Curiosidade: a Internet era gratuita, mas o local onde estava era um iglu. – Não vá passar aí o dia!

Último dia, domingo
Dormi até começarem a falar no exterior do quarto. Chineses!
O pequeno-almoço era fraquinho: uma minissandes de atum e uma chávena de chá.
Agora, espera de 6h no aeroporto. Ainda tenho que acabar o livro!
Aterragem em Macau. A saída do avião só foi possível meia hora depois, devido à reparação de uma avaria. HAAAAAAAA…
** Ficaram por visitar alguns locais a que gostaria de ter ido. Talvez um dia! Há tantos outros!

Por Roger

1 comentário:

Cátia disse...

FIQUEI DELICIADA A LER ESTAS TUAS AVENTURAS... SÓ POSSIVEIS DO OUTRO LADO DO MUNDO... PARABENS PELA TUA CORAGEM E PELA GRANDE CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO A ESS REALIDADE:)))

BEIJÃO GRANDE