nada de especial

O gato amarelo informa que tudo o que se encontra escrito nestas páginas não pretende atingir nenhum objectivo especial. Não se pretende escrever nenhum livro, nem mostrar ao mundo inteiro que aqui há algum talento, porque não há, como se verifica. São meras linhas de texto. Brevemente este blog tomará outro rumo e estas estórias quotidianas morrerão aqui mesmo. :))
até ao próximo post. GA

um jantar à maneira

Hoje Luísa convidou um amigo para cozinhar…quer dizer…ele ofereceu-se (não, não é o Filipe do café). Chama-se Paulo e costuma aturar os stresses de Luísa no trabalho. È jornalista também. Como ele adora cozinhar e inventar, tem por hábito fazer-se de convidado a qualquer pessoa que conheça, e com quem simpatize. “Para mim até é bom. Chegar a casa e esperar para ser servida…ui…que maravilha”, pensa Luísa. Segundo os rumores, Paulo faz bons pitéus, usando sempre os ingredientes dos anfitriões.
“Luísaaaaa, onde tens as cebolas??” grita Paulo. Luísa está na varanda a apanhar algumas peças de roupa. Ela entra envergonhada: “Acabaram e esqueci-me de comprar e agora está tudo fechado”. Já passava das 21h.
Ele decide então inventar. È perito nisso. Pensou em fazer um prato de origem tradicional, como massa de feijão com frango, mas foi inventando: cozeu cenoura, couve e massa espiral. Colocou o frango e tomate numa frigideira sem óleo (ele adora cozinhar com wok, mas a Luísa não se dá a essas modernices), depois misturou tudo. Resultado: massa de feijão com frango, mas sem cebola para o refogado, nem feijão.

Um bom café, sabe muito bem

Luísa adora café. Mas sabe que tem de reduzir o consumo. A bomba está prestes a explodir: café+ stress. Lembrou-se de ir reduzindo ou de substituir de uma vez o café por descafeinado, porque do que realmente gosta é do cheiro e do sabor que fica na boca. “Um café quente, independentemente da marca, com uma leve espuma a transbordar da chávena e a simpatia da empregada (o) que o serve, é um dos prazeres da minha vida agitada. Bebo aos poucos, saboreio. Torno o prazer mais longo….
Quando estou frente ao computador, desencadeia-me o raciocínio, as palavras fluem e conseguem transmitir verdadeiramente aquilo que quero dizer. Para mim é muito importante e vou sentir falta dele”.

A mensagem

No outro dia, Filipe, funcionário da instituição bancária frente à rádio e que frequenta o mesmo café – “O Cantinho”, pediu ao empregado que desse boleia a uma folha que, naquele momento, rasgou da agenda e onde rabiscou à pressa umas linhas e umas palavras. “Leve até àquela mesa junto à janela onde está sentada Luísa, se faz favor”. Aponta discretamente e continua, baixinho: “Aquela senhora de mãos delicadas.”
“Parecia um mapa improvisado! Levei ainda alguns dias a decifrar.” Luísa descobriu que os riscos foram lá desenhados para disfarçar a mensagem, que estava escrita em código:
E um número de telefone. Mas é óbvio que não ia ligar. Esperaria para ver no que aquilo ia dar. “Não o conheço de lado nenhum! Até me ofereceu um livro no natal…é estranho. Nunca trocámos uma palavra sequer”.

humm...hummmm...rrggggg....

Hummm…hummm…rrgggg….

“Esta minha garganta…” arranha Luísa.
Cinco dias de baixa por causa de uma gripe que a levou ao hospital na noite anterior. Sentada numa cadeira cor-de-laranja, de plástico, fria, viveu algumas horas na sala de espera. Afinal de contas não era caso urgente. “Ao meu lado estavam velhos, crianças, mães desesperadas, e ali estiveram quase tanto tempo quanto eu.” Uma pequenita, a Luisínha, começou a brincar com a “grande” Luísa “à sardinha fresca”, mas de repente começou a ficar muito branca e desmaiou. Logo a levaram para dentro e nunca mais a viu. Aquela imagem ficou na memória. “Tenho vontade de saber o que lhe aconteceu…Não, não é curiosidade mórbida de jornalista!.. Mas ela era tão simpática e estava tão doente e …portava-se melhor que os adultos. Estava a divertir-me.”
Uma curta conversa com sotaque castelhano, estetoscópio frio nas costas, inspira, expira, inspira, expira." Saí do consultório passados 10 minutos com uma mão cheia de cansaço, talvez mais algumas doenças que angariei por lá, e uma outra mão, que enchi na farmácia com antibióticos, vitaminas e descongestionantes.”
Vai permanecer sozinha em casa a cuidar de si. “Pode ser que a Ana apareça aqui, como costuma fazer de vez em quando…” suspira. A única coisa boa é que vai poder colocar o sono em dia. Andava a fazer directas para conseguir assegurar o trabalho na redacção e para concretizar o programa que tanto desejou.
“Não sei que faça….ele parece gostar de mim…mas eu estou tão confusa”. Pois…servirá também para pensar no que deve e no que não deve.
A lili lá continua enroscada no quarto a meia luz, solidária com a dona e bem contente por a ter em casa.

o dia que se aproxima

"Que dia aborrecido este!" suspira Luísa. A lili farta-se de correr de um lado para a outro, chateada, irritada. E mia em busca de atenção, depois de ter ficado fechada em casa. O sol já se foi e a chuva, miudinha, começa a cair. Aquela chuva que irrita qualquer um, que insistem em chamar-lhe molha-tolos. "Tola fui eu em ter saído de casa" diz Luísa, enquanto tenta tirar o casaco na tentativa de não molhar tudo o que a circunda. Mas o que interessa é que mais um dia passou e, apesar de tudo, Luísa está entusiasmada por um novo se aproximar. Amanhã vai estrear um programa radiofónico da sua exclusiva autoria. Até agora Luísa trabalhava exclusivamente na redacção, mas lá conseguiu - depois de várias propostas e vários 'nãos'- tempo de antena para 5 minutos de surpresas. E, admirem-se, com total liberdade de conteúdos. "Acho que não vou conseguir dormir esta noite. Que ridículo! Tantos anos de profissão e é preciso ficar assim? O pior é que não consigo controlar esta ansiedade e nervosismo..."

mudanças

Hoje é dia de mudanças! Finalmente Luísa vai sair do apartamento minúsculo onde mora com Lili. E deixar a rua estreia na periferia. Luísa vai mudar-se para a cidade. Esta, sim, será a solução para os constantes atrasos dela. Nunca mais andará a correr de manhã, poderá apreciar a sua caminhada até à rádio e, na nova rua, terá um pequeno centro comercial, numa cave, onde terá tudo aquilo que precisa. Bem…continuará a faltar-lhe uma garagem para deixar o seu velho carro. “Talvez pense em vendê-lo…” vaticina Luísa. Na verdade, Luísa não necessitará de transporte durante a semana, mas ao fim-de-semana como poderia ela ir até à praia ver as ondas a abraçar a areia, ou levar a lili, ainda que assustada, para um passeio no parque perto do Centro Cultural que ela tanto gosta de visitar?!?